Helena de Homero, Helena de Renoir. Helenas que não visitam a caixa eletrônica de nossas casas. O teto que não cobre mais nossas cabeças, nossas igrejas. Um homem que pode ter voltado da morte. E não seria o cinema a personificação da própria morte? Numa conversa hoje há pouco eu dizia no ônibus a respeito desta idéia, a mesma depositada no olhar das fotografias antigas, estas que guardavam a imagem dos mortos, fotografar os que não mais estão aqui. Mas Sônia Procópio que estava ao lado, mas sentada olhando para baixo e para a janela, disse que reside justamente aí para ela o oposto, a consagração do que se torna eterno, do que é vida. E entre a morte conceituada nas linhas de fuga do meu cinema e a firme devocação de vontade e vida de Sônia há um mesmo ponto que é a fronteira. Os filmes que registram as imagens da morte, mas que preservam continuamente os movimentos de vida. A fotografia como um molde, a moldagem; o cinema sendo toda ele modulação. Não são só as vozes, mas os sons, as luzes, os movimentos que estão em modulação perpétua.
Alguém cai do barco e quase se afoga. Poderia ser um homem. Mas depois pode ser uma mulher.
“Alguém reconheceu outro alguém e cada um aceitou as dificuldades – e isto está longe de ser bem realizado, eu concordo – de reconhecer o outro através de suas próprias necessidades.”
(GODARD, Jean-Luc. Cahiers du Cinéma, nº 433, 1990)
Se as opressões são tão terríveis é porque impedem os movimentos, e não porque ofendem o eterno.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
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