quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Uma direção, uma direção para a própria proposição


R.M.
este sentimento de " desenvolver-se " pode ser uma atualização de um possível. O Deleuze apresenta o movimento da causa formal ( o par possível- real) e o movimento da causa eficiente ( o par virtual -atual. Eles se interelacionam-se...então o possível pode relacionar-se com o atual e o virtual com o real. Estou lendo sobre isso; no momento pararei aqui. O que segue-se é digitação muito anteior.

...tento criar uma noção de espiritualização presente no cinema de Jean Lú... mas não quero que seja uma monumentalização mítica, não e não... não sei com o que contaria... procuro a noção entre o experimento de linguagem e época, existência, e História... de uma noção do técnico artístico e existencial... pela vivência tècnica da linguagem própria do cinema , e própria ao cinema... mas não numa escala mítica... seu cinema não o é! muito menos lendário ou coisas do tipo...
vou te mandar como está para você ver, e contribuir... é um esboço. ou melhor: queria esboçar uma sugestão... vê a linguagem, MArco...


M.M.M.
'este texto sobre o Godard procuro uma direção, uma direção para a própria proposição... é disso que falo para você! e a gente vai trabalhando... 'Então, mas eu preciso discutir essa 'direção', se existe como forma, formato, numa noção física mesmo, de reta, linearidade ou como caminho, processo nômade para a própria proposição. Porque eu consigo me situar mais no segundo caso do que no primeiro.

Sim, uma abertura na imagem. Mas eu gostaria de rever - já que assisti apenas uma vez na cinemateca - o filme para perceber o que há entre esses tempos, ver justamente 'a troca' de sinais. O presente em pb 'e' o passado em digital, ver justamente o canal. Seria o presente o real e o passado o virtual ou o presente o virtual e o passado o real ? E deixando de lado rapidamente os 'tempos', seria a película o real e o digital o virtual ? Mas no filme ela é o presente, o digital é o passado. E se ampliarmos para o próximo filme, Notre Musique deixa um silêncio quanto ao digital para depois irmos ao futuro, nem presente, nem passado, mas ao futuro. Um futuro no Paraíso. Em Éloge de L'Amour há também as escrita de 'memória', da 'H/h/istória', de 'arquivo', de 'alguma coisa', este que se repete algumas vezes como os outros. Pégut distinguia história e memória: "A história é essencialmente longitudinal, a memória essencialmente vertical. A história consiste essencialmente em passar ao longo dos acontecimentos.

A memória consiste essencialmente, estando dentro do acontecimento, mais que tudo em não sair dele, em nele permanecer, e remontá-lo por dentro". Bergson propusera um esquema para distinguir a visão especial que passa ao longo do acontecimento, e a visão temporal que se entranha no acontecimento.

' Se o presente se distingue atualmente do futuro e do passado é porque é presença de alguma coisa, que justamente deixa de ser presente ao ser substituído por 'outra coisa'. É em relação ao presente de outra coisa que o passado e o futuro se dizem passado e futuro de uma coisa.'Esse trecho de Deleuze me remete diretamente os planos de tela preta, com os escritos de 'alguma coisa', 'elogio... de alguma coisa'. Um filme com dois canais de imagem temporal, um filme que fala sobre os tempos da infância, da maturidade e da velhice. O que Fellini diz é bergsoniano: "somos construídos como memória, somos a um só tempo infância, a adolescência, a velhice e a maturidade." '

'O que o passado é para o tempo, o sentido é para linguagem, e a idéia é para o pensamento. O sentido como passado da linguagem é a forma de sua preexistência, aquilo em que nos instalamos já de início para compreender as imagens de frases, para distinguir as imagens de palavras e até de fonemas que ouvimos.'

'É quando uma história termina que ela começa a fazer sentido.', diz uma personagem em Éloge de L'Amour se não me engano. Do afeto ao tempo: descobrimos um tempo interior ao acontecimento, que é feito da simultaneidade dos três presentes implicados, dessas pontas de presente desatualizadas. Um acidente vai acontecer, acontece, aconteceu; mas também é ao mesmo tempo que ele vai ocorrer, já ocorreu, está ocorrendo; de modo que, devendo ocorrer, ele não ocorreu, e, ocorrendo, não ocorrerá... etc. Duas pessoas se conhecem, mas já se conheciam e não se conhecem ainda. A traição se faz, nunca se fez e, no entanto, se fez e se fará, ora um traindo o outro, ora o outro o primeiro, tudo de uma vez.

- 1986: «Grandeur et Décadence d`un Petit Commerce de Cinéma» é uma longa-metragem totalmente rodada em video. Mais do que isso: a utilização do video é, no plano fotográfico, tão sofisticada como um clássico filme em película de 35 mm. O tema é o mais «godardiano» possível: a banalização do cinema através da televisão.


R.M.
bem a relação do virtual com o real é uma questão muito presente em, por exemplo, quanto às comunicações... entende assim?

o virtual pode relacionar-se com o real no tocante a uma influência virtual no real... como os formadores de opinião...

há sempre a potência...

em ÉLoge de L'Amour há a potência da velhice, a potência da procura, do passado... e a velocidade final, o desafio da velocidade...são aberturas virtuais...

milagres podem ser vistos como virtualidades influindo no real... como o Bressane falou de " fenomenologia do milagre"... são pensamentos, interpretações e vivências, sim, não? possíveis...

os canais têm seus meios , seus códigos... você tende muito a reunir muita coisa...é necessário uma decupagem...
procure textos e faça decupagens... escolha imagens, movimentos... mas faça simples, no sentido de poder clarificar... não amontoe tanta coisa. eu sei do que falo porque te conheço quanto a isso e conheço ao que sempre escrevi... por exemplo em Lovisa sacrifiquei muita coisa porque mandava paar várias direções que no final não era nenhuma, e os versos poderiam se perder... ficariam vivos, também, claro mas quanto se procura um canal...por exemplo, este texto sobre o Godard procuro uma direção, uma direção para a própria proposição... é disso que falo para você! e a gente vai trabalhando...

mas exatamente. o presente ser em pb e o passado em cores... essa troca de sinais... isso é uma abertura da imagem ! pensa só.


M.M.M.
Em Éloge de L'Amour uma personagem recorda a outra uma frase de Santo Agostinho: "A medida do amor é amar sem medida.". Em Pontas de Presente, da Imagem-Tempo, Deleuze lembra da fórmula do mesmo Santo Agostinho, há 'um presente do futuro, um presente do presente, um presente do passado', todos eles implicados e enrolados no acontecimento, portanto simultâneos, inexplicáveis.

O mundo tornou-se memória, cérebro, superposição das idades ou dos lóbulos, mas o próprio cérebro tornou-se consciência, continuação das idades, criação ou crescimento de lóbulos sempre novos, recriação de matéria à maneira do estireno. A tela inclusive é a membrana cerebral onde se afrontam imediatamente, diretamente, o passado e o futuro, o interior e o exterior, sem distância designável, independentemente de qualquer ponto fixo. A imagem não tem mais como caracteres primeiros o espaço e o movimento, mas a topologia e o tempo.

'No grande mistério mudo, a palavra do intertítulo vem escorar o sentido. Em Godard esse sentido escrito se põe em questão e introduz um novo embaralhamento.'
Jacques Fieschi, "Mots en images", Cinématographe, nº 21, out. 1976.

Em O Pensamento e O Cinema, na Imagem-Tempo, há a questão das categorias que já conversamos diversas vezes. Numa das linhas se fala sobre o caso mais simples, como gênero artísticos, a epopéia, o teatro, o romance, a dança, e o próprio cinema. Cabe ao próprio cinema fazer sua reflexão, e a dos outros gêneros, na medida em que as imagens visuais não remetem a uma dança, um romance, um teatro, um filme preestabelecido, mas começam a 'ser 'cinema, no sentido da carga ontológica de 'faire' cinéma. E diz que as categorias ou gêneros podem ser também faculdades psíquicas como a imaginação, memória, esquecimento que me parecem existir em Éloge de L'Amour.

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