quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
O homem não se torna animal senão quando o animal, por seu lado, torna-se som, cor ou linha. É um bloco de devir sempre assimétrico. Não que os dois termos se permutem, eles não se permutam de modo algum, mas um só se torna o outro se o outro se torna outra coisa ainda, e se os termos se apagam. É quando o sorriso não tem gato, como diz Lewis Carroll, que o homem pode, efetivamente, tornar-se gato, no momento em que sorri. Não é o homem que canta ou que pinta, é o homem que se torna animal, mas justamente, ao mesmo tempo, em que o animal se torna musical ou pura cor, ou linha surpreendentemente simples: os pássaros de Mozart, é o homem que se torna pássaro, porque o pássaro se torna musical. O marinheiro de Melville torna-se albatrós, quando o albatrós se torna ele próprio extraordinária brancura, pura vibração de branco (e o devir-baleia do capitão Achab faz bloco com o devir-branco de Moby Dick, pura muralha branca).
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